Ex-chefe da Meta vê indústria de IA dependente de dados livres (imagem: reprodução/Swiss Image)
Resumo
Nick Clegg, ex-executivo da Meta, afirma que exigir permissão de artistas para treinar IA é inviável e poderia colapsar a indústria.
Segundo ele, sistemas de IA precisam de uma “vasta quantidade de dados” para evoluírem.
A fala ocorre enquanto o Parlamento britânico debate proposta para ampliar a transparência no uso de obras protegidas por IA.
Frente aos debates sobre regulação do setor de IA, Nick Clegg — ex-executivo da Meta e ex-vice-primeiro-ministro do Reino Unido —, afirma que se as empresas fossem obrigadas a pedir permissão a artistas para usar suas obras no treinamento de algoritmos, a indústria enfrentaria um colapso “da noite para o dia”.
Clegg classifica como “implausível” e impraticável a exigência de consentimento prévio dos detentores de direitos autorais, pois, segundo ele, os sistemas de IA precisam de uma “vasta quantidade de dados” para o seu desenvolvimento. “Se você fizesse isso na Grã-Bretanha e ninguém mais fizesse, você basicamente mataria a indústria de IA neste país”, complementa.
Queda de braço por regras na IA
Discussão sobre IA cresce com suspeita de que a Meta baixou 81,7 TB de conteúdo protegido (ilustração: Vitor Pádua/Tecnoblog)
A declaração do executivo ocorre em meio às discussões no Parlamento do Reino Unido sobre o “Data (Use and Access) Bill” — um projeto de lei que propõe, entre outras medidas, mais transparência no uso de obras protegidas por direitos autorais no treinamento de modelos de IA.
O texto quer obrigar empresas de tecnologia a revelar quais trabalhos utilizaram para treinar seus sistemas, aumentando a fiscalização sobre o uso de conteúdo criativo por essas plataformas. Centenas de artistas, como Paul McCartney, Dua Lipa, Elton John e outros músicos, designers e escritores, assinaram uma carta aberta, no começo de maio, declarando apoio à proposta.
Para os defensores da emenda, como a cineasta Beeban Kidron, diretora de Bridget Jones: No Limite da Razão, tal exigência permitiria a aplicação efetiva das leis de copyright e coibiria o uso não autorizado de material criativo.
Apesar da pressão, parlamentares já rejeitaram a emenda. Contudo, o projeto de lei ainda retornará à Câmara dos Lordes (equivalente ao Senado brasileiro) para nova discussão em junho. Peter Kyle, secretário de tecnologia do Reino Unido, defendeu que a economia britânica precisa tanto do setor de IA quanto das indústrias criativas para prosperar.
Indústria de IA já coleciona processos judiciais
Imagens geradas pela IA da OpenAI no estilo Studio Ghibli viralizaram nas redes sociais (imagem: reprodução/X)
Com a evolução recente dos modelos de imagem e vídeo, aumentaram os questionamentos sobre o uso de material protegido por direitos autorais pelas empresas de IA. Trends nas redes sociais, como a transformação de fotos de usuários, têm gerado reações negativas de artistas profissionais e amadores.
Mas desenhistas não são os únicos críticos ao processo de treinamento dos modelos de IA: em 2024, o New York Times processou a OpenAI e a Microsoft, alegando uso ilegal de seus artigos para treinar ferramentas como o ChatGPT.
Em 2023, Sarah Andersen, Kelly McKernan e Karla Ortiz também iniciaram uma ação contra a Stability AI, Midjourney, DevianArt e Runway AI. As artistas alegam que o modelo Stable Diffusion contém “cópias comprimidas” de suas obras.
Em janeiro deste ano, a Meta foi acusada de baixar 81,7 TB de torrents ilegais para treinar modelos de IA, sem a devida autorização. No total, a indústria já conta com dezenas de processos, envolvendo autores e detentores de direitos autorais, como a Universal Music Group, que questionam o uso não autorizado de suas obras.
Brasil e EUA querem regular autoria de IA
Nos Estados Unidos, o Escritório de Direitos Autorais publicou, em 29 de janeiro, a Parte 2 de seu relatório sobre inteligência artificial. No documento, o órgão afirma que os conteúdos gerados por IA só podem receber proteção autoral quando houver intervenção humana significativa. A declaração reacendeu debates online sobre essa “área cinzenta” da autoria na era da IA.
Já no Brasil, o Projeto de Lei 2.338/2023, por exemplo, prevê que o uso de obras em processos de inteligência artificial não serão, necessariamente, uma ofensa aos direitos autorais. O projeto segue na Câmara dos Deputados, que o abordou na Comissão Especial sobre Inteligência Artificial em 20 de maio.
Com informações do The Verge, Wired e Reuters
Pedir permissão para artistas “mataria” indústria de IA, diz ex-chefe da Meta
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